quinta-feira, 3 de junho de 2004

Canção de embalar

Cantas-me ao ouvido e eu finjo dormir para não te intimidar, para que continues a cantar a noite toda. Sei que se abrir os olhos vais fugir e deixar de me embalar com palavras doces, por isso espero todas as noites o momento em que fecho os olhos e em que dás voz à poesia. Enquanto cantas sei que me observas e me tocas suavemente, não vá o encanto quebrar-se.
Com medo de me acordares, páras muito tempo depois e adormeces, rendido ao avançar da noite. Eu, contudo, continuo a ouvir-te cantar, até que a sensação de que partiste me faz abrir os olhos, receando não te encontrar. Segura de que estás junto a mim, acaricio-te o rosto e imagino se também tu finges dormir para que possas ouvir-me sussurrar o quanto gosto de ti. Assim fico o resto da noite, pedindo-te que continues a cantar para mim, dizendo-te baixinho o quanto te quero, como se pudesse retribuir tudo aquilo que me dás.