terça-feira, 24 de dezembro de 2013

A liberdade é um lugar solitário

O bombardeamento sobre um possível e (i)legal referendo na Catalunha para discutir a independência da região do resto de Espanha dura há demasiado tempo para, mesmo aqueles que não têm horários para ver noticiários e não são amantes da rádio, não nos apercebermos dele.
Esta discussão, aparentemente eterna, sobre a possibilidade de decisão faz-me pensar: teremos realmente decisão livre sobre as nossas vidas? E não falo nas reservas que nos impõe a Lei porque essas são facilmente aceitáveis e de pacífico cumprimento. Falo daquelas decisões que nos vemos obrigados a tomar por muito que o nosso instinto e a nossa vontade gritem em sentido contrário. Se somos coagidos a ir onde não queremos ir, a estar com quem não queremos estar em datas que preferimos que não existam, a aguentar atitudes desagradáveis por parte de pessoas mais ou menos desconhecidas que nos julgam sem terem tido tempo suficiente ou conhecimento para formar uma opinião. Que liberdade individual é esta que só temos em miragem? A paz social, seja a sociendade em que nos movimentamos mais ou menos restrita, corta-nos o poder de decidir todos os dias e a cada centímetro do caminho. 

O mais livre é aquele que ao estar só não tem de ceder às pressões dos que tem em redor.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Saudades do verão

Mergulhara de cabeça, sem atenção nem cuidados de segurança, um dia num mar que de tão azul raiava o turquesa. O banho foi intenso, cheio de emoções e acabou com a dor de um barqueiro, que também ele ferido, a expulsou para o seu lugar na praia, cheia de cortes e feridas que o tempo parecia não querer curar.

Um dia o mar entrou de mansinho, de novo, por debaixo da porta de casa. Vinha escasso e abatido por força das marés vivas, queria que ela o acarinhasse como em tempos e se voltasse a imergir na felicidade das sensações do verão. E ela fê-lo, com algo de medo, mas com a urgência de saber que as segundas oportunidades são escassas e há que aproveitá-las quando surgem. 

De tempos a tempos, talvez por influência de um vento forte ou por incitação de algum peixinho zangado, o mar voltava a empurrá-la para a praia por momentos e as feridas abriam-se de novo e ardiam com o sal na pele. Porém, valia-lhe a pena esperar para que o mar voltasse a ser lago, para que a serenidade invadisse o mundo ainda revolto e pudesse sentir para sempre as sensações únicas que só a água salgada sobre a pele sem feridas consegue proporcionar.

Retorno a casa

Pediste-me um dia, e outro e outro e ainda outro, que não deixasse de escrever. Disse-te que precisava de um tempo, de espaço para limpar da minha mente os fantasmas que me tinham castrado a pena. Tudo isso era verdade, precisava de encontrar neste recanto a liberdade que perdi quando ele começou a ser invadido - por ser público - por gente que me queria pouco bem e se servia da "minha casa" para me investigar a vida (como se tudo aquilo que aqui se escreve correspondesse a uma realidade do momento e não a algo que pode ter sido ou não vivenciado, mas que é sempre fruto de um processo mental de intelectualização). Espero que a purga esteja completa porque preciso de recuperar a minha voz, ainda que sabendo que provavelmente o público fiel se foi com os meses de silêncio. Contudo, também te referi que só consigo escrever (ou apenas me agrada o que escrevo) quando não me sinto demasiado bem e tenho livre para a musa o espaço mental que costuma estar ocupado pela felicidade. 

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Gritos mudos


Quantas vezes mais terei de gritar "estou aqui" para que tu entendas as palavras e acredites em mim?

Afastar-me não vai resolver nada, apenas vai conseguir que eu desconfie de tudo e de todos de novo. Se tens algo a dizer, por duro que seja, acho que já te mostrei que aguento os golpes e que a minha armadura ainda consegue proteger-me do mundo. Se o medo que tens vem do facto de achares que a punhalada é dura demais, pensa que o golpe mais duro é pensar que não confias o suficiente em mim para querer partilhar o que te magoa. É isso que me dói, não as tentativas de ataque de (des)conhecidos aos quais não me devo.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Dor antiga

Porque houve um dia em que esta canção magoava demais, tive medo ao ouvir, na passada sexta-feira, os primeiros acordes. Talvez a voz ferida do Michael Stipe me comovesse mais, talvez tenha sido imbuída pelo espírito alegre da série (que se lhe reflete inclusive no nome), ... ou talvez, há quase dois anos, tenha deixado de doer em geral, e as cicatrizes comecem a conseguir tomar o lugar das feridas abertas.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Rapsódia em dó maior

A culpa é do cansaço, da vontade de dormir muito tempo, do não querer sair do sofá, do horror por passar a soleira da porta e voltar a enfiar-me no carro para a rota pendular de todos os dias. Será o caminho, o desânimo, a rotina, a deceção? Será que de vez em quando vejo claramente que me acomodei como todos aqueles em que não me quis refletir, e agora é tarde para voltar atrás. 
É tão difícil mudar de vida: deixar tudo e correr mundo em busca da alegria que perdi algures no caminho raiano. Gostava de ter coragem, de deixar a segurança e lançar-me à aventura. Porém, há raízes que me prendem ao chão, há um lar, há algo maior e muito mais importante do que um sorriso constante, e tudo isso me diz (baixinho, ao ouvido):
"Tu podes, tu aguentas, vais ver que não demorará o momento em que tudo vai mudar e a alegria te vai invadir outra vez."
E o momento não chega, e eu aguento.

Sinfonia em azul

Ainda me tocas, ainda mexes comigo. 
Contudo, já não são as borboletas no estômago de outrora. 
Depois de tanto tempo (e tantas outras coisas que não têm já qualquer tipo de importância) ficou-me uma tristeza profunda cada vez que penso em ti e em todas as esperanças vãs que, um dia, em ti depositei.

sábado, 16 de março de 2013

Reaching out

É tão difícil estar perto quando nos afastam. 
É tão complicado ver o mundo cinzento de repente sem saber de onde vem a falta de cor.
Custa muito perceber que talvez estejamos errados nas escolhas e nas decisões.
Dói entender que temos o que construímos e, a maior parte do tempo, essas construções não são mais estáveis ou fortes do que as cidades de papel ou os castelos de areia que edificávamos em crianças e que desapareciam com a mesma efemeridade com que dávamos um passo para o lado ou uma onda nos vinha visitar.

Pode ser que algum dia eu compreenda que não se pode agarrar o mar, que não se para o rumo de uma nuvem e que não conto mais do que comigo mesma para seguir o meu caminho, tenha quem tiver ao lado. Porém, como penso continuar a acreditar, como corro maratonas e não curtas distâncias, estendo a mão aqui e agora e espero que a agarres com toda a tua força para não me deixares cair.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Stating the obvious

Eu - Viste o filme que fizeram do Anna Karenina?
Ele - Não. Isso é um livro de um russo, não é?
Eu - Sim.
Ele - Pois, eu não gosto muito de Dostoyevsky e esses escritores russos todos, tipo Nietzsche.

Estava-se mesmo a ver que isto nunca poderia resultar.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Losing minds and something more


Soubesses tu o quanto me custa não poder abraçar-te e proteger-te contra tudo e contra todos, já não te sentirias tão só. É irónico que te sintas sozinho quando não quero mais do que estar ao teu lado e provar-te que não estás. Mostra-me que ainda és o homem que eu pensava que eras, que apesar das tuas complicações tu estás aí e não tarda voltas ao que sempre conheci de ti. Consegues perceber que ainda não acredito que me desiludiste?

Soubesse eu o que queres realmente, talvez já não estivesse aqui. É irónico que não queiras estar comigo e não me deixes partir e curar-me. Mostra-me o caminho, deixa-me ouvir o que estás a pensar, deixa-me perceber se devo acreditar em ti.

Soubesses tu que quando o teu corpo tocou num canto do meu e eu me perdi noutro canto do teu, que quando o meu coração perdeu o compasso e o teu sossegou o descompasso do meu, que quando fechaste os olhos e sorriste por dentro, logo o meu peito acalmou no segredo do teu. E o sol invadiu o escuro da noite e eu senti-te tão perto que não quis mais largar-te.

Soubesses tu que quando expus o meu mundo e o teu se fechou, que quando o sol se escondeu e tu fugiste com ele, que quando fiquei ferida de novo no escuro, logo o meu mundo parou no vazio que o teu mundo deixou. E o silêncio da tua ausência torna tudo tão maior que os pormenores do meu mundo, que antes eram insignificantes, se agigantam agora com o teu vazio. Todas as canções, todas as conversas, todos os detalhes te levam dentro. 

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Jinxed

Porque é que até as questões mais simples acabam sempre por ser lutas incessantes? Será este azar uma história interminável? Não sei quanto tempo mais o corpo aguenta, o cérebro, esse já desistiu há muito.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Para ti


Uma das mais belas surpresas que algum dia me fizeram veio (obviamente) por parte de uma das minhas amigas mais sábias. Aquela menina (para mim sempre) pequena em idade (temos uns quantos anos de diferença) que me dá paz e confiança, que me tranquiliza e diz verdades retumbantes impossíveis de pôr em causa. Essa menina especial – que considero como uma irmã pequena – disse-me um certo domingo de maio, do alto dos seus 15 ou 16 anos (já não consigo ser específica):

Feliz dia da mãe! Porque a nossa mãe é aquela que nos cuida e nos quer bem, nos obriga a estudar quando não queremos e nos ouve em todos os momentos. E eu sei que não tens filhos e que por isso achas que este dia não é para ti, mas é.

E eu, sem ser capaz de abarcar num só coração tanta doçura e generosidade, ainda por cima vindas de alguém que luta diariamente para se manter como a mais dura do universo, não consegui fazer mais do que agradecer e chorar.

Ontem e hoje tenho-me lembrado todo o dia destas frases dela. Talvez porque lhe sinta muito a falta e tenha saudades. Talvez porque há um ano que não nos vemos pessoalmente. Talvez porque esta conversa me fez pensar muito nesse mesmo dia e muitas outras vezes depois.

Nunca senti esse chamamento da natureza que muitas mulheres sentem e que as faz ter a certeza de que querem ser mães. Sempre pensei que se surgisse o momento, a situação e a pessoa ideal talvez fosse uma possibilidade, mas nunca mo pus como objetivo. E sei que há muitos que não entendem esta opção, mas é a minha e penso continuar a abraçá-la, aplaudindo de pé todos aqueles que decidiram lançar-se na aventura de ter filhos.
Contudo, tenho uma mania frustrada (e por vezes frustrante) de meter debaixo da minha asa aqueles de quem gosto, de proteger e dar apoio, de me esforçar por que se sintam queridos e confortáveis nesse lugarzinho que o mundo disponibilizou para eles dentro do meu coração. Era provavelmente a essa mania que a lindíssima R. se estava a referir quando me dizia que o dia da mãe era para mim.

Venho aqui hoje, contar este momento secreto entre a R. e eu, porque faz mais sentido do que nunca. Porque há outro alguém que vive longe de mim, e que eu queria estar a proteger neste momento mas sei que não posso. Sei que a única coisa que posso fazer é abrir-lhe os braços, ouvir-lhe as mágoas se mas quiser contar, tentar lutar para que encontre o chão que lhe anda a fugir, correr ao seu encontro assim que pudermos e entreter-lhe a razão com coisas mundanas para que possa descansar do turbilhão para onde a tristeza nos atira quando chega.
Estou aqui como ontem e como sempre, não fui para lado nenhum. Umas centenas de kms não são nada comparados com a nossa amizade.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Figuras d'Estilo - o que não publiquei em abril de 2011

Há um ano e tal, o meu coração dizia assim:

Foi também aqui que tudo começou.

É através daqui que digo o que preciso, sabendo que só te chegará se quiseres, porque não te quero invadir. Quero respeitar a tua vontade e os teus pedidos. Sei que é o não pressionar que me perde sempre mas tudo o que sinto por ti (e que é tanto) não me permite mais do que esperar que entendas de novo que a felicidade se faz dos pequenos nadas e não dos grandes sacrifícios - porque foste tu que mo ensinaste.

Fomos muito felizes, não fomos?

Não sei se te assusta a possibilidade de lado lunar, não sei se te intimida o futuro desconhecido, não sei se não dei o suficiente enquanto durou o mar.

Sei que tens medo. Que as dúvidas te assaltam segundo a segundo. Não quero instigá-las porque não quero que sofras, não se eu o puder evitar.

Hoje diz que escreveria o mesmo uma e outra vez, que te repetiria aos sete ventos palavras doces e conciliadoras, que se não as disse nem a ti nem a ninguém nesse momento era porque sabia que não iam solucionar nada e só iam ajudar a baralhar ainda mais tudo o que já estava num caos.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Rúbrica: "Posts que nunca foram publicados" - 30 de janeiro de 2011

Hoje,
andei na rua de megafone,
a apregoar o teu nome
e o amor que sinto por ti.


Não é completamente verdade que tenha gritado aos sete ventos o teu nome mas falei de ti com a naturalidade dos amantes e sinto-me muito feliz por não te ter escondido.

Memória não seletiva

Os momentos mais marcantes (bons ou maus) chamam-se assim porque nos mudam, deixam-nos uma cicatriz na alma, fazem de nós pessoas diferentes, mesmo quando não queríamos mudar. É depois desses momentos que entendemos - até os mais controladores, racionais e equilibrados - que nem sempre somos donos do nosso destino e que o auto-convencimento tem um limite. 

Algum tempo depois do último momento de mudança (ou do turbilhão de acontecimentos sucessivos que me forçaram a mudar novamente) olho para trás e percebo que não era dona da minha vida nessa altura, que me deixei levar pela maré dos acontecimentos porque lutar contra ela não fazia mais do que esgotar-me. E adaptei-me, ao que veio, ao que não veio, aos sonhos desfeitos e aos concretizados. Provavelmente errei muito ao longo desses dias, porém, era o que precisava de fazer e fi-lo quando tinha de ser feito. Tive a perfeita e completa noção de que a realidade (a minha própria realidade) tinha deixado de me pertencer e a única arma à disposição era não me mentir nem me enganar a mim mesma. 

Sou outra pessoa hoje em dia: menos ilusões, menos sonhos, mais projetos. Quero fazer e não só sonhar. 
E preciso de aprender a viver com esta tristeza permanente (que me dá descanso em determinados momentos, claro está), mas que,enquanto não aceitar em mim, enquanto continuar a tentar reunir anticorpos para a eliminar, mais vai atacar o meu sistema imunitário e enfraquecer-me. 
Somos o que vivemos, coisas boas e más, e, infelizmente, não podemos esquecer aquelas situações que nos fizeram sofrer muito; no entanto, é essa memória que nos faz agradecer e recordar os momentos de suprema felicidade. Para nos podermos lembrar do bom, temos de aprender a ter o mau acomodado e domado dentro do peito.