sexta-feira, 18 de junho de 2004
Imperfeições
Tenho uma pequena tendência para gostar daquilo que alguns poderão considerar as imperfeições dos outros. Não será o dom de ver qualidades onde os outros vêm defeitos, é apenas uma disposição para apreciar aquilo que outros normalmente não apreciam. É gostar num homem que use óculos, por mais bizarros que sejam, gostar das usas camisas, ainda que algumas sejam muito feias, gostar da sua carequinha extemporânea ou do seu cabelo permanentemente desgrenhado, da barriguinha proeminente ou do riso exagerado como um desenho animado. É gostar sempre da personagem mais tonta nos filmes ou nas séries. É apaixonar-me por uma personagem cheia de defeitos. O Gonçalo de A Ilutre Casa de Ramires (Eça de Queiroz) é, para mim, absolutamente arrebatador. O Fidalgo da Torre parece ter em si todos os defeitos, mas até mesmo a sua cobardia, a sua ambição desmedida ou a sua desonestidade eu considero encantadoras. Por que razão me encantam tanto as imperfeições dos outros? Para ser sincera, não sei. Talvez espere que os outros saibam apreciar as minhas imperfeições também.