"Conheci" o Rui Zink (como a grande maioria dos portugueses) através d' A Noite da Má-Língua. Era um programa que em minha casa ninguém perdia e onde eu aprendi que há um outro lado da política que nos pode ser veiculado pelo humor e pela ironia. Mas a maior fã do programa cá em casa era a minha avó.
A minha avó tinha 85 anos nessa altura e chegava a dormitar durante o telejornal e a novela para se conseguir manter acordada enquanto os "meninos dela" estavam "a dar". Ria sonoramente com as gargalhadas do Manuel Serrão, admirava o brilhantismo das tiradas do Miguel Esteves Cardoso, achava a Ritinha muito querida ("- ó filha só não percebo porque é que ela faz tantas caretas."), a Julia parecia-lhe fantástica, mas o favorito dela era o Rui Zinho.
Sim, nunca consegui convence-la que o apelido daquele senhor era estrangeiro. Para a minha avó era puro carinho o que levava a Júlia Pinheiro a tratá-lo pelo diminutivo com que também ela se lhe referia.
O Rui Zinho era o mais engraçado, o mais inteligente, o que tinha os melhores comentários e que ninguém lhe dissesse o contrário, ou ela zangava-se.
Ainda hoje, sempre que o vejo na TV ou na rua, sempre que leio um dos livros que escreveu recordo a ternura que a minha avó tinha por aquele desconhecido que nos entrava a horas tardias pela casa a dentro semanalmente. E não consigo deixar de gostar do Zink, deve ser hereditário!