O barquinho apercebeu-se, ao fim de anos de viagem solitária, que tinha encontrado um porto. Fez uma aproximação e ao contrário do que estava habituado sentiu um abraço. Foi ficando. Ali sentia-se em casa, não lhe apetecia voltar ao trilho sem rumo de antigamente. As tempestades faziam-no repensar se aquele seria o lar que tinha sonhado, mas não tinha coragem de se afastar, o que recebia era muito mais positivo do que um trovão ou um relâmpago ocasionais. E ele sabia o seu lugar, sabia que havia barcos mais antigos e mais importantes, mas sentia sempre que a onda de carinho que o envolvia não seria afectada.
Um dia, depois do "boa noite" diário, do sorriso ternurento e da carícia na proa, entendeu que tinha que zarpar. O afastamento era inevitável ainda que magoasse demasiado. Talvez um dia voltasse àquele porto, agora precisava de procurar mais, o que recebia já não era suficiente. "Talvez um dia", continuava a pensar enquanto navegava de mansinho para não acordar ninguém.