quinta-feira, 14 de abril de 2005

Mitologia Quotidiana

O "meu" Ulisses não luta em Tróia, não se arrisca em busca de fama nem glória e nunca se perdeu no mar. Ele procura encontrar-se e anseia por aventuras que o façam crescer.
Entretanto, eu teço num tear de sonhos o mais feliz padrão. Com linhas de paciência enredo a realidade, afasto avanços, calco crenças e aperto a malha. Os nós não me assustam - para aperfeiçoar há sempre tempo. E à noite, quando ninguém pode ver, encho o coração de fé e fecho os olhos. Só pelo tacto, desfaço os pontos para que o fim seja quando ele decidir.
Duvido... interrogo-me... chego a perder o ânimo, mas quando Morfeu me supera e a imagem mais amada me invade, recarrego energias e volto a acreditar.
Cada dia cresce o tecido e cada noite o desteço. Esta Penélope vive pela persistência dos amantes. A espera faz-se curta quando se é corredor de fundo.