Esta frase inquieta-me. Será que só conseguimos ter, verdadeiramente, aquilo que guardamos na memória? Será que apenas nos apercebemos da importância daquilo que deixou de ser nosso?
Se assim é, então isto quer dizer que quando temos algo connosco não lhe damos o devido valor e só posteriormente é que lhe prestamos atenção (às vezes demasiada). Quando esta reflexão entra no âmbito das relações pessoais assume uma proporção ainda mais assustadora. Fazendo parte de uma amizade, por mais pura e bonita que ela seja, mais tarde ou mais cedo acabamos por relegar esse sentimento para um segundo plano, ou porque fizemos um novo amigo, ou porque nos integrámos num novo grupo ou apenas porque nos sentimos tão seguros da fidelidade do outro que pensamos nunca o poder perder. No dia em que esse amigo se farta de não nos ouvir, de ser sempre ele o que nos procura, de ser o ombro onde choramos os nossos problemas mas apenas mais um quando queremos partilhar alegrias; no dia em que esse amigo se afasta, sentimos-lhe a falta como nunca antes e queremos recuperar aquilo que deixámos definhar por incúria. Tudo se pode aplicar também ao amor que, sem saber porquê, acabou. Anos depois, ainda estamos a pensar como poderia ter sido, ainda nos custa vê-lo(a) ou ouvi-lo(a), principalmente porque sabemos que fomos nós os culpados de o(a) deixar escapar.
Não se consegue remediar o passado, no entanto podemos preservar o agora, tendo sempre em mente que nada é eterno e que há que cuidar o que/quem queremos manter ao nosso lado.
* Um poeta que me marcou não pelo que li mas pelo que ouvi. Tive contacto com este autor através de uma entrevista de rádio que continuo a manter gravada numa velhinha cassete.