Aos 18 anos, quando as perdas humanas ainda não eram muito significativas (porque demasiado remotas) e me sentia imortal, um acidente de viação puxou-me para a realidade.
Primeiro a consternação, depois as lágrimas, em seguida a necessidade extrema de ter notícias... o apoio de uma turma que nunca antes nem depois conseguiu ser unida - apenas nesse dia. Recordo como a lágrima impossível de conter de uma colega que mordia os dedos para parecer forte, nos fez cair a todos num pranto.
Houve os que fugiram e se esconderam para não saber, houve os que se atiraram para dentro de um autocarro no dia em que nos disseram que ela tinha saído de perigo e já recebia visitas.
Lembro-me de a ter ido ver numa tarde de Maio. Nunca tinha entrado no Hospital de Alcoitão. Ver a minha amiga deitada numa cama, imóvel mas com um sorriso nos lábios foi um choque inexplicável. No dia antes eu tinha ido procurar-lhe uma prenda, que prudentemente pedi para não ser embrulhada. Mas a prenda foi para mim, quando a mãe decidiu mostrar-nos que, com a força que nunca a deixou, a Teresa conseguiu não só vencer a morte mas também contradizer todos os relatórios médicos que a davam como tetraplégica. Levantou o lençol que lhe tapava as pernas, pediu-lhe que fizesse um esforço e começou a chorar: o pé esquerdo que no dia antes anterior tinha conseguido a façanha de mexer um dedo, movimentava naquele momento quatro.
Saímos da enfermaria, o meu pai e eu, com a certeza de que tinhamos acabado de presenciar um milagre.
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