quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Rosinha


Chegar a casa e ler nos jornais que a prateleira da minha estante que lhe é dedicada não aumentará fez-me um bocadinho órfã. Habituei-me a vê-la na TV quando era pequena, ouvi e li-lhe a poesia ao longo de toda a vida, assistir ao crescimento da romancista foi uma experiência inesquecível. Recomendei-a mil vezes, a amigos, alunos, conhecidos; emprestei os livros como quem revela tesouros.

Relembro a última conversa no meio da Feira do Livro, enquanto me autografava o último dobrão de ouro:
Ela: Então? Outra vez por cá?
Eu: Pois é, já sabe que os fiéis somos assim, todos os anos a vimos visitar.
Ela: É muito bom saber que há quem goste do que escrevo.
Eu: Sabe que sim, tenho todos os seus livros.
Ela: Todos? E assinados?
Eu: Não, isso só os últimos.
Ela: Traga o resto da próxima vez.
Eu: Olhe que trago mesmo.
Ela: Fico à espera. Até para o ano.
Afastei-me com um sorriso, com a noção de que há rituais (como o da Feira do Livro) que nos dão alegrias inexplicáveis.
Em Junho, o Parque vai estar muito mais vazio. As letras portuguesas já estão mais pobres.

3 comentários:

A disse...

Bolas... Nunca tive o privilégio!

mafaldinha disse...

E foi um grande privilégio, podes crer! É bom sermos "tocados" por pessoas especiais que admiramos.
Obrigada pela visita.

Mafia disse...

orfã... aí está a palavra que descreve o que sinto, mas que ainda não tinha conseguido encontrar.

é triste saber que não mais me irei apaixonar pelas personagens delicadas e graciosas que só a Rosa sabia imaginar e depositar nas páginas dos seus romances.

mas sei-me privilegiada, porque cedo a descobri e pude, ao longo dos anos, deliciar a alma.

até sempre, porque é eterna e imutável o seu legado.