sábado, 2 de abril de 2011

Happy?

Segundo a segundo, a tristeza foi-se instalando na casa da alegria. O sono fugiu, o cansaço chegou, os sorrisos mudaram-se para parte incerta. A comida recusava-se a entrar e havia momentos de silêncio ocasionados por um alheamento quase total da realidade. Cada notícia que chegava não fazia mais do que arrastar lágrimas, dúvidas e vontade de desaparecer.

Os habitantes da casa tinham graves problemas de comunicação: o C. queria ficar, esperar por um futuro quimérico (em luta contra moinhos, em defesa daquilo que não quer ser protegido) com uma esperança de alegria que se desvanecia suavemente; a C. assentia que sim, afirmava que era o acertado a fazer, que deixarmo-nos levar por sentimentos como o orgulho não leva a muito e não ajuda ninguém; por seu lado, o I. - morador mais antigo e precavido do lugar - acautelava, repetia que nada mudaria, que era um desespero continuado a que mais valia dar ponto final. Não se gritavam, mas ouviam-se pouco, e assim, deixando arrastar os dias, sonhando com impossibilidades, agarrando-se a migalhas, foram deixando que a casa começasse a ter rachas, não lhe retocaram a pintura, não a cuidaram o suficiente. E ela foi caindo, caindo, caindo, até desabar completamente numa tarde de Primavera, já sem ilusões, resignada e a sobreviver por não saber fazer outra coisa.

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