quinta-feira, 19 de outubro de 2006

De Portalegre, cidade...

Quem nos conheça, ou até mesmo os que apenas nos tenham encontrado nestas lides virtuais, saberá que a Mir e eu somos amigas de toda a vida e irmãs de coração. Como pessoas diferentes que somos, tomámos rumos distintos e vemo-nos de vez em quando. Esses caminhos que escolhemos levaram-nos a portos de ancoragem geograficamente distantes: ela ficou-se pela capital e eu voltei à terra que nos viu nascer. Diz ela:
Queridíssima, há-os (coitados) que quiseram sair e por contigências da vida não puderam fazê-lo, é uma pena por eles, todos deveriamos ter a possibilidade de ser felizes num sítio que nos fizesse sentir verdadeiramente em casa.
Há também aqueles que como eu, sabendo que não ia ser fácil, sabendo que iriamos ser vistos como "estranhos" decidimos voltar, porque amamos este verde e este chão, porque queremos ajudar a fazer da nossa cidade um sítio onde aqueles que cá querem morar se sintam em casa, porque queremos que os nossos filhos (aqueles que não planeamos sequer ter) possam crescer na tranquilidade de andar de bicicleta até à meia-noite no verão, possam fazer uma actividade diferente por dia em tempos de escola, possam ter-nos presentes ao sair e ao voltar, sem que para isso tenhamos que abdicar da realização profissional. Uma cidade onde pode ser incómodo conhecer toda a gente e onde os rumores voam ao sabor do vento, mas onde há um sorriso a cada esquina de alguém que viste sempre.
A nossa cidade tem muitos defeitos - a paragem no tempo, a falta de saídas profissionais e as más-línguas, são para mim os piores - mas tem também um sem-fim de virtudes. Eu gosto de acordar de manhã e ver a Serra, gosto da tranquilidade, gosto de ver gravado em cada recanto (meu) um momento feliz que passei e saber que outros vou poder imprimir nestas ruas e paredes, gosto de no verão ter uma piscina rodeada de verde quase só para mim. Chama-me sonhadora, mas eu quero ajudar a mudar o pequeno mundo em que cresci e por isso lutarei enquanto viva. Nem todos somos coitados, querida amiga, os que pudemos escolher e escolhemos Portalegre, somos felizes aqui, por pouco que haja para fazer, por pouca oferta que exista. E por muito que critiquemos, porque nunca estamos completamente satisfeitos ou não seriamos humanos, somos mais felizes aqui do que em qualquer outra parte do mundo, não é a falta de conhecimento que proporciona isso, é a possibilidade de opção. Ainda para mais, Lisboa está só a um pulinho de duas horas, se nos apetecer uns dias de mais bulício.
Um escolha diferente da nossa, nem sempre é uma má escolha, é apenas isso: diferente!

7 comentários:

menir disse...

Cara mafaldinha, as escolhas são com cada um, e existem algumas que me fazem admirar mais quem as faz. ;)

mir disse...

Sabes bem de que "coitados" falo. Os "coitados" que se queixam mas se vão ficando só pelo gosto de se queixarem e, como eu, os "coitados" que ficam tristes por não terem vontade de voltar nem coragem para se dedicarem à causa.
Por outro lado devo lembrar-te que me disseste que "eu moro na minha casa", e na tua casa também não me importava de morar...

mafaldinha disse...

Eu sei, menir, que as escolhas são com quem as faz, era mesmo isso que tentava dizer :)

Linda, espero que não tenhas levado a mal o meu post, achei que te devia responder, se calhar li-te mal, não sei. Acho que mais do que nada já precisava de explicar uma decisão que (a maior parte d)as pessoas teima em não entender. O teu texto foi o interruptor. E a minha casa está aqui para ti, como sempre esteve, não fui só eu que cresci aqui. Beijos enormes

Anónimo disse...

Este é um post geográfico. Tão geográfico que até ficava bem num exame (com uma pergunta por baixo, claro!).
A percepção do espaço depende de quem o vê, de quem o sente, de quem o vive, de quem com ele cria uma interacção.(isto dava uma longa dissertação, podes crer...).
Indo ao cerne da questão: é bom ficar, deve-se ir embora? Moralmente e profissionalmente te respondo: não sei!
Não há modelos (por muito que a ciência os queira criar)corretos e adaptados a todos, essa é a verdade. Portanto não critico (nem tenho que criticar) quem fica ou quem vai. Cada um sabe de si.
Ainda digo mais, acho que se pode fazer tanto pela "terrinha" estando nela, como estando lá fora (às vezes os que lá estão/ficam estão mais aptos a destruir do que que a contruir...).
Mas de uma coisa estou certa: devemos estar onde somos felizes.

Beijocas

mafaldinha disse...

Ai tu é a geografia do teu coração, sabia que virias comentar este post. Concordo com tudo o que dizes também acho que criticar não é a via, senti coceguinhas (das boas) com um post da Mir e ela sabe que esta "resposta" não era de forma alguma uma crítica e sim um outro ponto de vista. Tens razão quando dizes que muitos dos que ficam são mais pela destruição que pela construção, mas todos podemos ter sonhos, não é? E eu sempre fui uma idealista.
No entanto, a conclusão que tiramos parece ser sempre a mesma, a nossa casa deve ser no espaço que nos traz felicidade.
Beijos

mir disse...

Dói-me embirrar com a terra em que cresci. Dói-me chegar e não querer sair de casa senão para passear na serra. Dói-me sair de casa e voltar passada meia hora absolutamente enjoada de caras de "coitadinhos". Dói-me quando me parece que está pior do que a deixei. Gostava que me convencessem que estou enganada... ;)

mafaldinha disse...

Não sei como te hei-de convencer, mas vou dar voltas à cabeça e vou conseguir, acredita :P