Uma das mais belas surpresas
que algum dia me fizeram veio (obviamente) por parte de uma das minhas amigas
mais sábias. Aquela menina (para mim sempre) pequena em idade (temos uns
quantos anos de diferença) que me dá paz e confiança, que me tranquiliza e diz
verdades retumbantes impossíveis de pôr em causa. Essa menina especial – que considero
como uma irmã pequena – disse-me um certo domingo de maio, do alto dos seus 15
ou 16 anos (já não consigo ser específica):
Feliz dia da mãe! Porque a
nossa mãe é aquela que nos cuida e nos quer bem, nos obriga a estudar quando
não queremos e nos ouve em todos os momentos. E eu sei que não tens filhos e
que por isso achas que este dia não é para ti, mas é.
E eu, sem ser capaz de abarcar
num só coração tanta doçura e generosidade, ainda por cima vindas de alguém que
luta diariamente para se manter como a mais dura do universo, não consegui
fazer mais do que agradecer e chorar.
Ontem e hoje tenho-me lembrado
todo o dia destas frases dela. Talvez porque lhe sinta muito a falta e tenha
saudades. Talvez porque há um ano que não nos vemos pessoalmente. Talvez porque
esta conversa me fez pensar muito nesse mesmo dia e muitas outras vezes depois.
Nunca senti esse chamamento da
natureza que muitas mulheres sentem e que as faz ter a certeza de que querem
ser mães. Sempre pensei que se surgisse o momento, a situação e a pessoa ideal
talvez fosse uma possibilidade, mas nunca mo pus como objetivo. E sei que há
muitos que não entendem esta opção, mas é a minha e penso continuar a
abraçá-la, aplaudindo de pé todos aqueles que decidiram lançar-se na aventura
de ter filhos.
Contudo, tenho uma mania
frustrada (e por vezes frustrante) de meter debaixo da minha asa aqueles de
quem gosto, de proteger e dar apoio, de me esforçar por que se sintam queridos
e confortáveis nesse lugarzinho que o mundo disponibilizou para eles dentro do
meu coração. Era provavelmente a essa mania que a lindíssima R. se estava a
referir quando me dizia que o dia da mãe era para mim.
Venho aqui hoje, contar este
momento secreto entre a R. e eu, porque faz mais sentido do que nunca. Porque
há outro alguém que vive longe de mim, e que eu queria estar a proteger neste
momento mas sei que não posso. Sei que a única coisa que posso fazer é
abrir-lhe os braços, ouvir-lhe as mágoas se mas quiser contar, tentar lutar
para que encontre o chão que lhe anda a fugir, correr ao seu encontro assim que
pudermos e entreter-lhe a razão com coisas mundanas para que possa descansar do
turbilhão para onde a tristeza nos atira quando chega.
Estou aqui como ontem e como
sempre, não fui para lado nenhum. Umas centenas de kms não são nada comparados
com a nossa amizade.